quarta-feira, 31 de dezembro de 2008
quinta-feira, 18 de dezembro de 2008
no meio do caminho havia uma sirene
Debaixo daquele salto havia uma unha encravada. Sim, havia uma unha encravada debaixo daquele salto. Era a minha unha do dedão do pé direito para fora um pouquinho da mesa, enquanto ouvia o cantor dando uma pausinha com um poema de Drummond. Era um barzinho noturno chamado “Balcão de Pedra”, na região de Santa Cecília, em Sampa, no qual eu adorava passar as madrugadas de sexta para sábado. E ela veio se afastando, mais e mais, até que numa bushística demonstração de pontaria cravou aquele saltinho de uns 12 cm bem sobre minha sofrida unha. Soltei um grunhido sufocado, daqueles à beira de um vexame, enquanto ela caia sobre o meu colo. Mas, toda beira de vexame é escorregadia e a cadeira virou com nós dois. Prejuízo total. Esparramados sobre meu corpo - o meu whisky, cheinho e recém-entregue pelo garçon, na camisa: a cuba-libre, que ela segurava, como fosse shampoo para meu cabelo: incômodas pedrinhas de gelo e uma também incômoda bunda sobre o meu peito, tirando-me o fôlego.
A imagem que se vê de baixo para cima quando todos estão rindo de você, parece filme de terror. Todos rirem não me importava tanto quanto ela gargalhando largada sobre mim. Parece ter demorado séculos para que visse minhas mãozinhas acenando para que saísse dali o mais urgente possível. O galo na parte de trás da cabeça, deu-me a sensação de ter me erguido pelo menos uns 10 centímetros do chão. Não sabia se ria ou chorava, ou o que doía mais: a unha encravada, a cabeça, o peito ou o mico.
Terminada a sessão de crise de gargalhadas, deu-me a mão e levantei-me meio zonzo e meio rasgado.
- Ei, desculpe. Machuquei você, né? Meu Deus, como sou desastrada! Acho que estou zonzinha...
Estava morrendo de raiva, mas ao ver aqueles olhinhos azuis de cãozinho arrependido, resolvi não esticar o drama. O jeito era rir também, até para poder minimizar o mico.
- Machucou sim, caso não tenha percebido. Zonzinho, agora também estou... Você assistiu Terremoto? Está passando no Cinespacial.
- Desculpe, não consigo parar de rir. Qual o seu nome?
- O que restou de mim, chama-se Paulo. Tornados sempre têm nome de mulher, qual o seu?
Estendeu a mão direita:
- Silene, muito prazer. Paulo, por favor, me perdoe. Diz que me perdoa?
Quem então desatou a rir fui eu. Sirene, ora, sirene!
- Espero que seja a Sirene de uma ambulância. Estou precisando.
E fiquei gargalhando feito um idiota da minha própria piada. Não tive resposta. Aqueles olhos azuis estavam marejados. Linda mulher, me dei conta. Percebi que ela rira o tempo todo de nervosa. De vergonha pelo que provocara e por estar um pouco “altinha”. Agora estava perdida e triste. Estava sendo muito cínico com ela, afinal não havia sido proposital.
- Sirene, vem cá. Sente aqui comigo e nossos amigos. Sua cuba estava gostosa. Vou pedir outra e outro whisky, assim brindamos ter nos conhecido.
- Obrigada, Paulo. Vou pedir uma toalha para secar você. Tem certeza que não precisa ir a um pronto-socorro ou farmácia?
- Nada que uma boa noite de sono não cure.
E foi assim que conheci Silene. A quem passei chamar “Sirene”, para os amigos.
Não conseguia imaginar como uma garota tão desastrada e desligada pudesse ser aeromoça. Isso. A avoada Silene era aeromoça. Não demorei muito a perceber que tínhamos uma espécie de sina, uma escala pela vida.
Por volta das quatro e meia da manhã, vou levá-la para seu apartamento. E lá mesmo ela conseguiu recuperar minha roupa cheirando bebida, meu humor, meu romantismo e a integridade física com uns pinguinhos de merthiolate. Acordo em torno de 11 horas da manhã com uma cotovelada no olho, advindo de uma virada brusca de uma agitada dorminhoca.
- Ei, amor. Já acordado? Por que acordou tão cedo?
Ponho-me a rir e ela imagina que estou rindo da cena da madrugada no “Balcão de Pedra”. Nada disse. Não queria criar mais cenas de constrangimento.
- Deve estar cansado. Seus olhos estão fundos...
Os dias foram passando e entre as escalas de vôo e os fins de semana, ela ligava e passávamos horas ao telefone. Minha mãe ficava doidinha. Três, quatro horas falando com a aeromoça.
Mas, nossa saga não pararia por aí. Certa noite, surge na porta de casa:
- Vem. Uma amiga me falou de um motel muito legal. Teto solar sobre a cama, banheira do tamanho do nosso amor, colchão d’água, cozinha árabe, essas coisas. Tem que ser agora, anjo! Hoje, sua Silene quer aterrissar sobre você.
- Vê lá. Cada aterrissada sua eu saio todo quebrado.
Rimos juntos.
Mas, parece que uma nuvenzinha sempre nos perseguia. Nesta noite, não cheguei a ver estrelas por 10 minutos. Começou a garoar sobre nossa cama. Levantei-me então para apertar o botão que fechava o teto solar (ou lunar), enquanto ela permanecia deitada sobre o colchão d’água. Pulei para o alto e caí deitado sobre a cama. Com o repuxo do colchão d’água, vi minha musa decolando rumo ao alto e caindo estatelada sobre o chão. Novamente não sabia o que dizer. Ela me olhava assustada com a saída forçada. Foi difícil segurar o riso e percebendo isso ela dava pequenos socos no meu peito:
- Vingou-se agora? Está feliz?
O jeito foi convidá-la para um banho. Da ducha só saía água gelada, ela reclamava. De frente para ela, disse para abrir toda a água quente e ir fechando a fria aos poucos. Fechou toda água fria.
- Agora sim, amor. Ta uma delíciAIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII UIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII. AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH ME QUEIMEI TODAAAAAAAAAAAAAAAAA.
E queimou-se mesmo. Suas costas vermelhas davam dó de ver. As lágrimas escorriam por sua face. Estava patético vê-la sentada no vaso sanitário, desprotegida e nua, chorando desconsolada. Sem poder rir.
Antigamente o castigo vinha a cavalo. Nos tempos das aeromoças, o castigo começou a vir de Boeing. O meu não tardaria. Algo, como uma Sirene, dava-me um alarme que viriam mais coisas.
Continuávamos nas conversas telefônicas. Quando Silene ligava, corria para meu quarto e trocávamos juras de amor por horas e horas. Certo dia, toca o telefone e minha mãe grita:
- PAULOOOOOOOOOOOOOOO, TUA SIRENE NO TELEFONEEEEEEEEEEEE.
Meu quarto ficava no andar superior. Tinha que passar pela cozinha, subir as escadas e ir para o quarto. No início da escada havia uma quina de mármore a uns 25 cm do chão.
No meio do caminho havia um mármore; havia um mármore no meio do caminho. Nem é necessário dizer que na correria doida, bati aquela parte nobre - o filé mignom de cima do dedão, querido Drummond. Que dor lancinante, que inferno de Dante! (valeu a rima). Mas, naquele momento o que veio aos lábios foi um glorioso palavrão interrompido:
-PUTAQUIP.....
Enquanto agachava-me xingando, para apertar o dedão de unha encravada, que doía mais que encontrar a mãe nos braços do inimigo fumando o cigarrinho do depois, meu joelho bateu no queixo e ganhei ainda de brinde uma bela mordida na língua, que abriu na hora, jorrando sangue pela minha boca. A unha encravada também cortou o dedão e sangrou. Até hoje não esqueço minha mãe:
- Ta vendo, filho? Xinga. Xinga que Deus castiga!
Rolei pelo chão sem saber se ria, se chorava, se xingava ou se morria. Por fim murmurei baixinho, para nem minha mãe e nem Deus ouvirem direito:
- Merda...
- Não vai atender a moça, filho?
- Ah, mãe, eu quero que a moça... que a moça vá... que a moça vá... me ligar outra hora. Agora não. Diz praquela anta voadora que outro dia eu ligo. Essa mulher parece praga do Moisés. Isso não é amor. É infecção.
Passados alguns dias, minha mãe distraidamente pergunta:
- A tua Sirene não ligou mais. Por que não fala mais com ela, filho? Foi bom o que aconteceu aquele dia, pois conseguimos cortar o canto da unha encravada. Têm males que vêm para bem.
- Tem males que vem para estrepar a gente, mãe! Para não dizer outra coisa!
- Ué, tanto grude e agora assim? Esqueceu sua menina-ambulância? Desmancharam?
- Não, mãe. O problema é que, qualquer dia, ela viria me ver com avião, tripulação, passageiros e toda a VARIG. Acho que no quintal não vai caber. Não desmanchamos.
A imagem que se vê de baixo para cima quando todos estão rindo de você, parece filme de terror. Todos rirem não me importava tanto quanto ela gargalhando largada sobre mim. Parece ter demorado séculos para que visse minhas mãozinhas acenando para que saísse dali o mais urgente possível. O galo na parte de trás da cabeça, deu-me a sensação de ter me erguido pelo menos uns 10 centímetros do chão. Não sabia se ria ou chorava, ou o que doía mais: a unha encravada, a cabeça, o peito ou o mico.
Terminada a sessão de crise de gargalhadas, deu-me a mão e levantei-me meio zonzo e meio rasgado.
- Ei, desculpe. Machuquei você, né? Meu Deus, como sou desastrada! Acho que estou zonzinha...
Estava morrendo de raiva, mas ao ver aqueles olhinhos azuis de cãozinho arrependido, resolvi não esticar o drama. O jeito era rir também, até para poder minimizar o mico.
- Machucou sim, caso não tenha percebido. Zonzinho, agora também estou... Você assistiu Terremoto? Está passando no Cinespacial.
- Desculpe, não consigo parar de rir. Qual o seu nome?
- O que restou de mim, chama-se Paulo. Tornados sempre têm nome de mulher, qual o seu?
Estendeu a mão direita:
- Silene, muito prazer. Paulo, por favor, me perdoe. Diz que me perdoa?
Quem então desatou a rir fui eu. Sirene, ora, sirene!
- Espero que seja a Sirene de uma ambulância. Estou precisando.
E fiquei gargalhando feito um idiota da minha própria piada. Não tive resposta. Aqueles olhos azuis estavam marejados. Linda mulher, me dei conta. Percebi que ela rira o tempo todo de nervosa. De vergonha pelo que provocara e por estar um pouco “altinha”. Agora estava perdida e triste. Estava sendo muito cínico com ela, afinal não havia sido proposital.
- Sirene, vem cá. Sente aqui comigo e nossos amigos. Sua cuba estava gostosa. Vou pedir outra e outro whisky, assim brindamos ter nos conhecido.
- Obrigada, Paulo. Vou pedir uma toalha para secar você. Tem certeza que não precisa ir a um pronto-socorro ou farmácia?
- Nada que uma boa noite de sono não cure.
E foi assim que conheci Silene. A quem passei chamar “Sirene”, para os amigos.
Não conseguia imaginar como uma garota tão desastrada e desligada pudesse ser aeromoça. Isso. A avoada Silene era aeromoça. Não demorei muito a perceber que tínhamos uma espécie de sina, uma escala pela vida.
Por volta das quatro e meia da manhã, vou levá-la para seu apartamento. E lá mesmo ela conseguiu recuperar minha roupa cheirando bebida, meu humor, meu romantismo e a integridade física com uns pinguinhos de merthiolate. Acordo em torno de 11 horas da manhã com uma cotovelada no olho, advindo de uma virada brusca de uma agitada dorminhoca.
- Ei, amor. Já acordado? Por que acordou tão cedo?
Ponho-me a rir e ela imagina que estou rindo da cena da madrugada no “Balcão de Pedra”. Nada disse. Não queria criar mais cenas de constrangimento.
- Deve estar cansado. Seus olhos estão fundos...
Os dias foram passando e entre as escalas de vôo e os fins de semana, ela ligava e passávamos horas ao telefone. Minha mãe ficava doidinha. Três, quatro horas falando com a aeromoça.
Mas, nossa saga não pararia por aí. Certa noite, surge na porta de casa:
- Vem. Uma amiga me falou de um motel muito legal. Teto solar sobre a cama, banheira do tamanho do nosso amor, colchão d’água, cozinha árabe, essas coisas. Tem que ser agora, anjo! Hoje, sua Silene quer aterrissar sobre você.
- Vê lá. Cada aterrissada sua eu saio todo quebrado.
Rimos juntos.
Mas, parece que uma nuvenzinha sempre nos perseguia. Nesta noite, não cheguei a ver estrelas por 10 minutos. Começou a garoar sobre nossa cama. Levantei-me então para apertar o botão que fechava o teto solar (ou lunar), enquanto ela permanecia deitada sobre o colchão d’água. Pulei para o alto e caí deitado sobre a cama. Com o repuxo do colchão d’água, vi minha musa decolando rumo ao alto e caindo estatelada sobre o chão. Novamente não sabia o que dizer. Ela me olhava assustada com a saída forçada. Foi difícil segurar o riso e percebendo isso ela dava pequenos socos no meu peito:
- Vingou-se agora? Está feliz?
O jeito foi convidá-la para um banho. Da ducha só saía água gelada, ela reclamava. De frente para ela, disse para abrir toda a água quente e ir fechando a fria aos poucos. Fechou toda água fria.
- Agora sim, amor. Ta uma delíciAIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII UIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIII. AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH ME QUEIMEI TODAAAAAAAAAAAAAAAAA.
E queimou-se mesmo. Suas costas vermelhas davam dó de ver. As lágrimas escorriam por sua face. Estava patético vê-la sentada no vaso sanitário, desprotegida e nua, chorando desconsolada. Sem poder rir.
Antigamente o castigo vinha a cavalo. Nos tempos das aeromoças, o castigo começou a vir de Boeing. O meu não tardaria. Algo, como uma Sirene, dava-me um alarme que viriam mais coisas.
Continuávamos nas conversas telefônicas. Quando Silene ligava, corria para meu quarto e trocávamos juras de amor por horas e horas. Certo dia, toca o telefone e minha mãe grita:
- PAULOOOOOOOOOOOOOOO, TUA SIRENE NO TELEFONEEEEEEEEEEEE.
Meu quarto ficava no andar superior. Tinha que passar pela cozinha, subir as escadas e ir para o quarto. No início da escada havia uma quina de mármore a uns 25 cm do chão.
No meio do caminho havia um mármore; havia um mármore no meio do caminho. Nem é necessário dizer que na correria doida, bati aquela parte nobre - o filé mignom de cima do dedão, querido Drummond. Que dor lancinante, que inferno de Dante! (valeu a rima). Mas, naquele momento o que veio aos lábios foi um glorioso palavrão interrompido:
-PUTAQUIP.....
Enquanto agachava-me xingando, para apertar o dedão de unha encravada, que doía mais que encontrar a mãe nos braços do inimigo fumando o cigarrinho do depois, meu joelho bateu no queixo e ganhei ainda de brinde uma bela mordida na língua, que abriu na hora, jorrando sangue pela minha boca. A unha encravada também cortou o dedão e sangrou. Até hoje não esqueço minha mãe:
- Ta vendo, filho? Xinga. Xinga que Deus castiga!
Rolei pelo chão sem saber se ria, se chorava, se xingava ou se morria. Por fim murmurei baixinho, para nem minha mãe e nem Deus ouvirem direito:
- Merda...
- Não vai atender a moça, filho?
- Ah, mãe, eu quero que a moça... que a moça vá... que a moça vá... me ligar outra hora. Agora não. Diz praquela anta voadora que outro dia eu ligo. Essa mulher parece praga do Moisés. Isso não é amor. É infecção.
Passados alguns dias, minha mãe distraidamente pergunta:
- A tua Sirene não ligou mais. Por que não fala mais com ela, filho? Foi bom o que aconteceu aquele dia, pois conseguimos cortar o canto da unha encravada. Têm males que vêm para bem.
- Tem males que vem para estrepar a gente, mãe! Para não dizer outra coisa!
- Ué, tanto grude e agora assim? Esqueceu sua menina-ambulância? Desmancharam?
- Não, mãe. O problema é que, qualquer dia, ela viria me ver com avião, tripulação, passageiros e toda a VARIG. Acho que no quintal não vai caber. Não desmanchamos.
Pensei melhor e concluí:
- Tivemos alta um do outro.
texto: paulo moreira
texto: paulo moreira
segunda-feira, 8 de dezembro de 2008
morrer de amor
Os dias sem esse alguém são aqueles dias de frio
De mãos trêmulas, dos músculos enrijecidos
Da boca repuxada, ar gelado quase assobio
Busca de mãos quentes, de calores perdidos
Crônicas insônias, cobertores que não suprem
Frios na alma são chicotes de gelo em couro
Andar descalço em desertos invertidos que nevam
É procurar carinhos e apenas encontrar vácuos
Câmara fria que nos mantém o corpo inerte
Abaixo de zero, nada se move, nada diverte
São as árvores sem folhas, arrasadas pelo gelo
É saudade congelada, queimando em desespero
Os dias sem esse alguém são as noites escuras e horríveis da solidão
Insistem nossos braços gelados tateando em cegueira pura
Tenebroso, o medo revolto dentro de nosso próprio porão
E atravessam o quarto os sons agudos da amargura
São os lamentos do que não se fez; são remorsos
Morrendo, frases sem luz perdendo palavras
Capuz sufocante que castra os olhos
Entrecorta o fôlego, traz lágrimas
Tudo então torna-se pequeno
A vida perdendo a razão
Congelados os restos
Sem brilho, assim:
Sem gestos
Escuridão
Fim
paulo moreira
De mãos trêmulas, dos músculos enrijecidos
Da boca repuxada, ar gelado quase assobio
Busca de mãos quentes, de calores perdidos
Crônicas insônias, cobertores que não suprem
Frios na alma são chicotes de gelo em couro
Andar descalço em desertos invertidos que nevam
É procurar carinhos e apenas encontrar vácuos
Câmara fria que nos mantém o corpo inerte
Abaixo de zero, nada se move, nada diverte
São as árvores sem folhas, arrasadas pelo gelo
É saudade congelada, queimando em desespero
Os dias sem esse alguém são as noites escuras e horríveis da solidão
Insistem nossos braços gelados tateando em cegueira pura
Tenebroso, o medo revolto dentro de nosso próprio porão
E atravessam o quarto os sons agudos da amargura
São os lamentos do que não se fez; são remorsos
Morrendo, frases sem luz perdendo palavras
Capuz sufocante que castra os olhos
Entrecorta o fôlego, traz lágrimas
Tudo então torna-se pequeno
A vida perdendo a razão
Congelados os restos
Sem brilho, assim:
Sem gestos
Escuridão
Fim
paulo moreira
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