domingo, 14 de agosto de 2011

pai & filho

Que falta você faz, pai. Daria tudo para ouvir uma única palavra sua; para ouvir sua voz me dizer apenas:
- Filho
Você continua anos e anos a fio nesse silêncio, enquanto o sinto cada vez mais forte ao meu lado. Será que está chegando o tempo de te rever ou será, ainda, que haverá um rever? Queria tanto poder afirmar isso com a convicção dos que dizem:
- Eu sei. Porque foi MEU PAI quem falou!
O inverno e o frio do seu silêncio aumentam ainda mais essa saudade e, quando penso, imagino que em suas terras só existem primaveras. Não consigo mais lembrar de cenas completas e só retalhos de momentos junto de ti, feito uma fotografia que o tempo foi se encarregando de pouco a pouco ir apagando, é o que possuo. No entanto, sua essência invade mais e mais o meu ser e esse saber do para sempre me fere demais.
Sabe, pai, morrer num dia de Natal não é o melhor presente que se dê a um filho. Isso não se faz e você não tinha esse direito. Não tinha o direito de me entregar os natais da eternidade para me castigar para sempre. Temo passá-los todos sem entender. Mas existem tempos em que todos os dias parecem natais e você insiste em me olhar feio por eu sentir assim. Sentir falta não é malcriação, você sabia? Acho que sabe, sim.
Sua presença me espiona em meus quartos, porém é como uma música sem letra e quando te sinto ao meu lado, vem essa canção triste que não me abandona.
Sinto, vivo, me desespero e você não diz uma só palavra.
Ilumina-me incansável, mas não consigo expressar a ninguém aquilo que me irradia. Desconheço seu jeito de se fazer entender e nem me dou conta que estamos em mundos diferentes. Só sei traduzir para mim mesmo essas loucuras que você vive falando sobre ter fé e paciência, embora não me convença.
Então o meu ser chora por inteiro. Por mim, pelo meu egoísmo, pela tua falta. Por saber essa dor que não cede. Ainda assim, peço para ficar sempre junto de mim e que não se atreva nunca mais a me deixar sozinho nesse parquinho de brinquedos velhos. Por favor, dê-me sua mão e não vou mais ligar por me ver como um menino. Quanto mais o tempo passa, mais percebo que você tem sempre razão.
Perdoe-me por estar assim, pai. Não é manha - é o medo da tristeza dessa tua ausência absurda. É a emoção que vem quando estou na tua presença - tão inimaginável quanto concreta.
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texto: paulo moreira
crédito de imagem: filipe silva - olhares.com - portugal

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

flores que abraçam


Sensibilidade é ter olhos que assistem outros olhos serenos e lhes percebe a paz que levam. Delicadeza.
É sentir coisas impossíveis de se explicar ao ver uma pétala de rosa com gotas de orvalho e perceber que a imagem é a mesma de ver a si próprio com as gotas da noite fria e deserta de presenças ou sonhos. É saber acariciar peles com o dorso das mãos sem quase tocá-las. Emocionar-se ao ver estrelas e ter dó de si por estar só. Ter saudade do que não pode ser, como tivesse sido. Angústia pela solidão da noite.
Sensibilidade é sofrer o sofrimento de outrem, não importa quem. Sentir que cada dor sofrida pelo mendigo ou milionário, mulher, homem, animal ou planta - até pelas pedras - dilacera seus olhos-pétalas de sereno. Olhos de sensibilidade não choram; serenam.
Delicadeza de transformar as tristezas, alegrias e qualquer sentimento, em mãos que dizem sob qualquer forma, o que lhes atravessa a alma. Seres generosos. Seres movidos pela emoção.
Homens tornam-se anjos quando mulheres, que transformam-se em fadas, voam perto. Fundamental tê-los juntos para entender que a vida é um maravilhoso milagre; ter a possibilidade de assistir como  uma mulher pode ser mágica, sendo apenas uma Flor.
Sensível a ponto de, num abraço - que parece ter em sua ausência de fórmula, todos os sentimentos mais profundos que alguém possa ter - moldar peças com a imagem de sua fragilidade. Despertar entendimento entre formas e cores, obrigando-nos a sorrir com pureza, a amar e querer bem sem limites. Deixando-nos sem saber se nosso ouvido inventou um leve suspiro, para o coração sorrir ainda mais.
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.texto: paulo moreira
imagem: google