A pior lágrima foi aquela que deixamos de chorar. E deixamos de chorar feito um poço que seca fora de época – inesperadamente – em plena estação das águas. Assusta secar assim; sem lamento ou saudade da fonte, agora árida.
Lágrimas foram tantas que, nos perdemos no próprio tempo e chegamos a não mais entender o porquê delas. Mesmo assim, vertem sem controle; teimosas, insolentes e insensíveis para com o nosso estar a sós com dignidade; como se agora fosse importante ser tão digno.
Águas brotadas de nós deságuam num novo mar enorme, em cujo fundo, ficam anseios, desejos, mágoas mal curadas, bocas cheias de limo em seus cantos. O amor depois do porto destruido.
Águas brotadas de nós deságuam num novo mar enorme, em cujo fundo, ficam anseios, desejos, mágoas mal curadas, bocas cheias de limo em seus cantos. O amor depois do porto destruido.
No fundo de nossos mares, ficam nossas interrogações eternas; nosso eterno não entender, feito galera que naufragou. Nas bordas do continente de quem se foi, nem sempre floridas do outro lado – longe, bem longe – fica alguém que sequer acena. Não por algum motivo específico; não acena porque não percebe nem o mar, nem o naufrágio. Tampouco, que morreu para nós, na fúria tenebrosa e paradoxa da própria indiferença. Do descuido e do descaso.
Incomoda também nada mais sentir, quando o oceano furioso e indomável deu lugar a um quase lago, um mar pequeno e fechado onde nem mais as lágrimas podem desaguar.
Um trecho de mar condenado, cujo tempo vai arrastar para as paragens do nunca.
Bate uma tristeza infinita e tão profunda. Por querer chorar e não mais saber, ou pior, não ter mais vontade de quem ficou imóvel naquele porto – lá do outro lado. A tristeza de dor, virou o susto de não mais querer. Nem chorar, nem um insípido sorrir.
A lágrima de agora não veio e é, sem dúvida, a pior lágrima. Indigente, é aquela que - sabemos - não mais brotará.
texto: paulo moreira
imagem: acasos afortunados (elenita rodrigues) - google imagens
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