sábado, 16 de agosto de 2008

estranho ofício

Estranho ofício esse. Às vezes, acordando em sobressalto no meio da noite, para atender a urgência de uma idéia, feito um policial percorrendo as ruas do labirinto de nós mesmos. Personagens que surgem e dos quais temos a obrigação de lhes contar as dores, os sofrimentos, o amar, o tudo sentir. Escrivão do tribunal da própria consciência, relatando acontecimentos que marcam o espírito. É assim.
Como uma criança que vive seus sonhos, sou pintor. E meus pincéis são palavras, capazes de colorir sonhos, de produzir telas de natureza viva ou morta. Pintor de casas de toda cor, inclusive das que já a perderam. De árvores secas ou floridas, depende. Um pedreiro que assenta as palavras dos muros de arrimo da esperança. Açougueiro que apunhala o coração sem piedade. Soldado sem quartel.
É esse o ofício. E mais.
Médico amigo que socorre corações e lhes cura as feridas. Cirurgião plástico que modela a amada à feição de fada ou, talvez, um psicólogo navegador que - paciente - ouve, propõe buscas, orienta rumos e viaja Brasis e outros mundos. É o curador ou charlatão de almas tantas, mesmo a sua. Um professor que presume tudo poder ensinar.
Escrever é assim.
Sou engenheiro de palavras, viabilizando o impossível num tear de tramas do fundo de alguém. O iluminador de caminhos, talvez. O palhaço arrancando sorrisos e ternura de uma criança de qualquer idade. Anjo veterinário dos animaizinhos - enxerga cada um como um filho.
Minha profissão são todas e, em cada uma, tento ser o melhor possível. Alimento-me de emoções e as dos outros, pretensiosamente, quero alimentar também.
Sou o músico da poesia ritmada ou sem rima ou rumo. Cineasta e diretor do filme que escolhe o final feliz ou não, conforme meu estado. Filmo cenas de amor, de aventura, dos horrores do mundo. Tudo num papel. Walt Disney de algum desenho animadíssimo. Kubrick de coisas ininteligíveis, mas instigantes.
Emociono-me igualmente com sorrisos ou lamentos. Ambos mexem comigo de uma maneira fortíssima. Despertar a emoção das pessoas é a realização do meu trabalho. A minha maior paga.
Escrevo e faço do meu escrever um testemunho do mundo, de defesa do que me parece justo. Advogado dativo, preposto da natureza, dos amantes, dos sonhos, do Céu e da Terra. Se alguém os agride - enquanto juiz - condeno ao exílio ou à morte perpétua. Passo o concreto e o virtual para um único plano; o dos sentimentos traduzidos em palavras. Arrancar lágrimas, leva-me a um estranho tipo de êxtase.
Ao menos, tento.
Sou nada real. Mas, ainda que absurdo, faço as pessoas pensarem. Um chanceler de todas as profissões e afazeres do mundo. Do amor também.
Na verdade, sou apenas um escritor.

***
texto: paulo moreira

14 comentários:

Lucia disse...

Paulo:

Um dos seus mais brilhantes textos.
Eu o li, encantada, da primeira letra ao útimo ponto.Maravilhoso!!!
Carinho enorme
Lu

Rosani disse...

Olá! Paulo

Belíssimo! Sem palavras para descrever a doçura e profundidade destas palavras...Parabéns!!! você sempre me suprende com textos lindos como esse!

Beijos,

dade amorim disse...

Olá, Paulo. Achei seu blog através da Lúcia, que já é uma amiga virtual. Parabéns pelo lançamento, e pela amostra do texto, imagino que deve ser de grande ternura.
Beijo e muito sucesso.

Anônimo disse...

Cheguei às suas palavras encaminhada por uma grande amiga a Rosani, e não me arrependi,é um texto que me fez pensar que devo ir em busca dos sonhos, correr sim contra o tempo, pois o tempo foi estipulado por homens que deixaram de sonhar...rss
Valeu

Uma aprendiz disse...

Oi, Paulo

Muito bom. Parabéns.

Josemar Pires Ribeiro disse...

Oi Paulo..
Que belo texto... parabens.
Vc realmente é o mágico das palavras, o arquiteto das palavras e o pintor dos sonhos e fantasias de um texto bem elaborado...
Muito sucesso em seu livro....o primeiro de muitos.
abraços

Anônimo disse...

Oi moço:
Acabei de ler o texto e pensei em comentar de ter sido um dos que mais me tocou (ou gostei), quando vi as palavras da Lucia, sempre tão bem colocadas, resolvi fazer as dela as minha (desde a primeira letra ao último ponto).
abraços sempre fraternos.

Deusa Odoyá disse...

Olá amigo.
Não tenho palavras, seu texto suas ideias e como escreves e pintas o seu dia de poeta, magnífico.
só espero que no lançamento de qualquer livro seu, não esqueças desta sua nova amiga de escritas.

Regina Coeli.

Apareça em meu cantinho, sinto sua falta amigo.

Beijos e fique na doce paz do seu coraçã.

Deusa Odoyá disse...

Olá amigo.
Não tenho palavras, seu texto suas ideias e como escreves e pintas o seu dia de poeta, magnífico.
só espero que no lançamento de qualquer livro seu, não esqueças desta sua nova amiga de escritas.

Regina Coeli.

Apareça em meu cantinho, sinto sua falta amigo.

Beijos e fique na doce paz do seu coraçã.

Kamila Sarto disse...

Poxa... fui na bienal na terça-feira com a escola, fiquei procurando seu livro mas parecia impossível pq eu sabia o autor a obra mas não lembrava o nome da editora... mas vou tentar ir sábado que vem, quem sabe eu não ganhe um autógrafo?!.. rs.. Desejo a vc um grande sucesso, e quero ver vc lá no jô soares kkkk.
beijos e boa sorte!

Kamila Sarto disse...

Ahh!!
tô vendo aqui a capa do seu livro, está maravilhosa, tô curiosíssima p/ saber o que tem por dentro.

sucesso!!

Anônimo disse...

PARABÉNS PELO SEU LIVRO!
VOCÊ MERECE!

MELL GLITTER disse...

Bravo, querido poeta!
Com maestria descreveu a alma poética de um escritor!
Me ví em cada linha, em cada palavra, em cada vírgula.
Meus sinceros aplausos!

Bjos

Anônimo disse...

Parabéns pelo texto!
Continue exercendo todas as profissões do mundo através de seus textos.
Amei conhecer teu Blog.
Bjss...mill...