quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

do impossível de explicar


Música sem letra. O que sai da garganta feito uivo, lamento, grito. O que não mais importa - sentimento que abortou - luz que se recusa. Nossos sótãos e seus morcegos, suas teias, sua poeira.
As ausências que escorreram entre os dedos. O sem nexo, sem sentido, sem rumo. Palavra sem tradução, sem dicionário. Amontoados de adeuses. Indiferença por impercepção, por revelia. Perder-se de si por Walk Over. Não ficar, nem partir. Descolorir - desflorescer. Chorar granizo.
Falta. 

texto: paulo moreira
imagem: mariya maracheva
música: pink floyd - the great gig in the sky / powered by: http://www.sissinossosite.com.br/

domingo, 13 de novembro de 2011

pavores e certezas

Quando amanhece vem o medo de que os olhos, de desejaram-se tanto, ceguem ao perceber o dia. E não consigam mais ver a cidade de sonhos que foi criada na imaginação de dois habitantes, cheia de praças de crianças sorridentes; de igrejas que tocam sinos suaves todas as noites, das ruas tortuosas de nossos corpos, nossas pontes.
Receio de não mais voar entre as velhas árvores que plantamos num piscar de olhos, de nossos labirintos e vielas cheios de bares com música suave. Não mais ver nossas sombras coloridas, só possíveis para os de pura paixão.
Arrepios assustados por não ver lençóis e travesseiros desarrumados – que parecem a pintura do paraíso – monumentos de querer bem. Pavor de arrumá-los, pois se o fizermos, arrasaremos nossos quarteirões construídos com a delicadeza dos cúmplices. Temer que ao raiar do dia, nossas nascentes sequem e nenhum líquido nunca mais brote de nossas fontes de prazer, cheias de luzes coloridas.
Lamentar o som do chuveiro de quem se prepara para sair, como se os sons dos gemidos e sussurros da madrugada não lhe bastassem. Preferir a cegueira ao ver a porta se abrir e outro se esvair de nós, feito gás que se desprende de uma bebida; deixando-nos feito restinho de refrigerante abandonado.
Ciúme por ter que emprestar nosso alguém à cidade, agora de verdade. Visualizar pernas, braços, sorrisos e vestidos que vão movimentar-se, como criança - ingênua e linda - entre calçadas, avenidas ou o escritório. Jurar que nossos carinhos são lugares mais seguros.
Sair também para o dia sem graça que se arrasta e com a certeza de ter lido em algum lugar que o mundo terminaria hoje. Medo e angústia do nunca mais.
Retornar à noite e sentado no sofá, na solidão da sala, meio a tantas lembranças - vê-la entrar com um sorriso e uma sacola enormes; olhos brilhantes de diamantes e abrindo braços como quem pede para brincar de desarrumar lençóis e morrer de amor. Nos corações, toda a certeza do mundo.
Na sacola - uma Coca-Cola. Bem gelada.

texto: paulo moreira
imagem: google/coca-cola
música: angela aki - onegasani aishiteru - powered by: www.encrencamidis.com

sábado, 5 de novembro de 2011

novas lágrimas


Não quero mais os quadros do passado brincando com os sentimentos. A história eu já sei de cor. E, exatamente por isso, sei que é preciso tirar as velhas roupas e viver com o que há de vir. Só o passado traz medos e me faz morto.
Necessito da mágoa nunca antes sentida; da saudade do que ainda não passei. Serão bem vindas as tristezas inéditas. Hei de me contorcer em dores agudas - com gemidos e olhos de dó de mim - pelo simples prazer de conhecer novas feridas.
Preciso dos desenganos, dos desatinos e de novas decepções. Almejo, com toda a força da minha alma e mais do que nunca, o novo - o não vivido.
Quero um amor com todas as infelicidades que ele possa me dar.
E poder, com plenitude e intensidade, chorar minhas novas lágrimas.

texto: paulo moreira
imagem: arquivo pessoal
música: dashboard confessional - swiss army romance - powered by:
www.encrencamidis.com


domingo, 9 de outubro de 2011

poder acontecer

Sempre achamos que tudo pode acontecer novamente. Em nosso ser, acontece novamente o tempo todo. Muito linda a estória infantil da aranha Momentinha, que subia na calha e vinha a chuva  e a derrubava. Quando o sol brilhava - secava a água - lá estava ela de volta. Sempre!
Nunca acreditamos que a chuva pode nos derrubar e, tal qual aranhas teimosas, acreditamos que o sol voltará. Sempre!
Por piores tempestades que venham, isso só servirá para sabermos que acima de tudo - amar o sol nos move.


texto: paulo moreira
imagem: photoforum.ru - rússia
música: carly simon - coming around again/itsy bitsy spider - powered by: http://www.encrencamidis.com/

domingo, 14 de agosto de 2011

pai & filho

Que falta você faz, pai. Daria tudo para ouvir uma única palavra sua; para ouvir sua voz me dizer apenas:
- Filho
Você continua anos e anos a fio nesse silêncio, enquanto o sinto cada vez mais forte ao meu lado. Será que está chegando o tempo de te rever ou será, ainda, que haverá um rever? Queria tanto poder afirmar isso com a convicção dos que dizem:
- Eu sei. Porque foi MEU PAI quem falou!
O inverno e o frio do seu silêncio aumentam ainda mais essa saudade e, quando penso, imagino que em suas terras só existem primaveras. Não consigo mais lembrar de cenas completas e só retalhos de momentos junto de ti, feito uma fotografia que o tempo foi se encarregando de pouco a pouco ir apagando, é o que possuo. No entanto, sua essência invade mais e mais o meu ser e esse saber do para sempre me fere demais.
Sabe, pai, morrer num dia de Natal não é o melhor presente que se dê a um filho. Isso não se faz e você não tinha esse direito. Não tinha o direito de me entregar os natais da eternidade para me castigar para sempre. Temo passá-los todos sem entender. Mas existem tempos em que todos os dias parecem natais e você insiste em me olhar feio por eu sentir assim. Sentir falta não é malcriação, você sabia? Acho que sabe, sim.
Sua presença me espiona em meus quartos, porém é como uma música sem letra e quando te sinto ao meu lado, vem essa canção triste que não me abandona.
Sinto, vivo, me desespero e você não diz uma só palavra.
Ilumina-me incansável, mas não consigo expressar a ninguém aquilo que me irradia. Desconheço seu jeito de se fazer entender e nem me dou conta que estamos em mundos diferentes. Só sei traduzir para mim mesmo essas loucuras que você vive falando sobre ter fé e paciência, embora não me convença.
Então o meu ser chora por inteiro. Por mim, pelo meu egoísmo, pela tua falta. Por saber essa dor que não cede. Ainda assim, peço para ficar sempre junto de mim e que não se atreva nunca mais a me deixar sozinho nesse parquinho de brinquedos velhos. Por favor, dê-me sua mão e não vou mais ligar por me ver como um menino. Quanto mais o tempo passa, mais percebo que você tem sempre razão.
Perdoe-me por estar assim, pai. Não é manha - é o medo da tristeza dessa tua ausência absurda. É a emoção que vem quando estou na tua presença - tão inimaginável quanto concreta.
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texto: paulo moreira
crédito de imagem: filipe silva - olhares.com - portugal

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

flores que abraçam


Sensibilidade é ter olhos que assistem outros olhos serenos e lhes percebe a paz que levam. Delicadeza.
É sentir coisas impossíveis de se explicar ao ver uma pétala de rosa com gotas de orvalho e perceber que a imagem é a mesma de ver a si próprio com as gotas da noite fria e deserta de presenças ou sonhos. É saber acariciar peles com o dorso das mãos sem quase tocá-las. Emocionar-se ao ver estrelas e ter dó de si por estar só. Ter saudade do que não pode ser, como tivesse sido. Angústia pela solidão da noite.
Sensibilidade é sofrer o sofrimento de outrem, não importa quem. Sentir que cada dor sofrida pelo mendigo ou milionário, mulher, homem, animal ou planta - até pelas pedras - dilacera seus olhos-pétalas de sereno. Olhos de sensibilidade não choram; serenam.
Delicadeza de transformar as tristezas, alegrias e qualquer sentimento, em mãos que dizem sob qualquer forma, o que lhes atravessa a alma. Seres generosos. Seres movidos pela emoção.
Homens tornam-se anjos quando mulheres, que transformam-se em fadas, voam perto. Fundamental tê-los juntos para entender que a vida é um maravilhoso milagre; ter a possibilidade de assistir como  uma mulher pode ser mágica, sendo apenas uma Flor.
Sensível a ponto de, num abraço - que parece ter em sua ausência de fórmula, todos os sentimentos mais profundos que alguém possa ter - moldar peças com a imagem de sua fragilidade. Despertar entendimento entre formas e cores, obrigando-nos a sorrir com pureza, a amar e querer bem sem limites. Deixando-nos sem saber se nosso ouvido inventou um leve suspiro, para o coração sorrir ainda mais.
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.texto: paulo moreira
imagem: google

sábado, 30 de julho de 2011

a bola que ressuscitou



Plena quinta-feira à noite, todos na porta da faculdade depois da prova de matemática e contabilidade. Alguns acadêmicos decidem ir para um point, jogar um snooker e tomar umas cervejas, porque ninguém é de ferro. Dessa reunião, colhemos algumas pérolas no decorrer da noite. Talvez isso sirva para que as mulheres conheçam um pouco melhor o universo masculino. Acreditamos que nem a TV Cultura produziria um documentário tão educativo e proveitoso para acadêmicos de Administração. Aqui vão alguns trechos de frases e conversas da noite que, a rigor, deveriam ficar registrados num portfólio:
*
- pensei que a prova seria difícil...
- e não foi?
- não... estava impossível...
*
- Passivo Circulante é um viadinho dando voltas no Lago, à procura de um namorado...
- Procurando um Ativo Divertido...
- É Diferido...
- Coisa nenhuma. É falta de vergonha mesmo!
*
- Meu, você com esse cigarro largado na boca e mirando as bolas, está parecendo dono do jogo do bicho, chefe do tráfico no morro, uma coisa assim...
- Você acha mesmo? Estou tão bem assim?
*
- Da próxima vez vamos fazer um churrasco na pracinha, em frente à facu.
- Mas, não é proibido fazer churrasco na praça?
- Ninguém pode proibir a gente de fazer churrasco. A carne é minha e a Praça é pública. Em frente a outra escola que estudei, eu fazia. Os que estavam lá dentro reclamavam da fumaça e do cheiro. Pararam de reclamar quando começamos a passar o churrasco pela janela... Até o diretor elogiou...
*
- Paulão, não fica chateado. A gente tem que ser sonhador mesmo. Tudo o que existe, precisa ser sonhado antes...
- Sonho mesmo... quero o melhor e ninguém tem nada com isso! Para ter uma vida melhor, temos que sonhar e lutar. Como diria a Rita Lee: eles têm 3 carros, mas eu sei voar...
- Pô cara, que legal isso que você falou. ... Então voa!  Amarra um lençol e vai fundo...
*
- Prestenção cara, aquela que tá jogando agora naquela mesa, a bundinha empinadinha...
- Fazendo pose...
- Pose nada, é desse jeito mesmo.
- Uiaaaaaaaaa, é mesmo... Original de fábrica...
- Bão, né?
- Ajeitada...
*
- Num gosto de gente que tem duas caras.
- Nem eu, principalmente quando as duas são feias...
*
- Não fico preparando jogada, miro a bola e desço porrada...
- Então joga logo...
- TÁ VENDO MALUCO? É ASSIM QUE SE MATA UMA BOLA. UAUUUUUU
- Se você não tivesse matado a bola deles, teria sido muito bom mesmo...
*
- Atende o celular!
- Merda, ela sempre me acha...
*
- Tô admirado, cara... é muito grande... é redondona, é enorme... é...
- É uma overbunda!
- Mas, é ajeitada.
*
- Você já reparou que bunduda só anda em grupo?
*
- Num falei que é mirar e dar porrada?
- Falou, mas precisa ajeitar a bola para a jogada seguinte...
- O que precisa é matar as bolas...
- Também precisa.
-...Num acredito, só faltava ela. Ela entrou na caçapa...
- É, mas saiu.
- A infeliz ressuscitou no terceiro dia!
*
- De quem é esse copo?
- Do bar...
*
- MATEI! MATEI!
- Jogou no meio, bateu no bico e morreu no fundo. Assim qualquer um mata. Rabudo!
- Mas matei! Puxa vida, cara, num precisa falar desse jeito, tá me magoando... você tá acabando com a minha auto-estima.
- Pô, desculpa cara...
- Desculpa nada. Saí da frente que é pra eu fazer outra cagada dessas!
*
- Precisava espairecer. Marvada TPM!
- TPM?
- Tô Puto Mesmo
*
- Atende o celular.
- Merda, ela me achou novamente!
*
- Não é possível! A bola ressuscitou de novo!
- Liga não, parceiro. Cê já matou todas as bolas imatáveis.
*
- A gente precisa fazer isso sempre...
- Fazer o quê? Prova?
- Não... reunir o pessoal, distrair-se com os amigos
- Toda semana...
- Duas vezes por semana...
- Todo fim de semana...
- O Bar do Mussarelli já abriu as inscrições para matrícula?
*
- Tchau pra todo mundo. Vou pra casa levar um ralo da mulher agora. São quase duas da manhã.
- Não achou que os caras pesaram a mão na conta?
- Achei sim. Mas, valeu a pena, né?
- Valeu sim. Só uma coisa me deixou invocado...
- O quê?
- Aquela bola que ressuscitou... ressuscitou 3 vezes. Parecia mulher feia; quando eu batia mais firme e pensava que tinha ido... ela de novo...
*
- Atende o celular.
- Merda. Como é que ela me encontra tanto, heim?
*
Este trabalho é a síntese significativa da aprendizagem adquirida no módulo O Direito de Tomar uma Cerveja Depois das Provas. É uma exigência do processo avaliativo dos amigos e tem como objetivo, exercitar os acadêmicos na capacidade de síntese e comunicação através de um bom jogo de snooker.
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texto: paulo moreira
crédito de imagem: anastasia luppova

terça-feira, 10 de maio de 2011

poderosa


Gestora de sonhos. De meu sentir, tutora
Comandante de vida. Patroa do arco-íris
Princesa dos ventos. Madre superiora
Presidente de meus olhos. Gerente das flores
Chefe das brisas. Razão da música e poesia
Diretora dos rumos. Mentora de planos
Possuidora das cores. Feitora de amores
Madame dos templos. Autora de beijos
Maga do êxtase. Juíza de todas as causas
Rainha bela e devassa. Rainha do tabuleiro
Deusa do encontro. Imperatriz dos desejos
Reitora dos modos. Encarregada da paz
Madona do quadro. Mandante do crime
Musa nua da idéia. Detentora do motivo
Responsável de tanto amar. Dona da posse
Delegada de paixão cativa e amor detento
Provedora da felicidade. Você é assim:
Senhora de tudo – Senhora de mim

texto: paulo moreira
imagem: google
song by: www.doug-scoth.com

domingo, 17 de abril de 2011

amar eu próximo como a mim mesmo - umbilicomaníacos

PRÓLOGO – A CENA

O sujeito estava dando uma palestra sobre motivação e o pouco que ouvi, foi “en passant”. Tinha os gestos amplos de quem abraça o mundo e encontra a própria mãozinha do outro lado do planeta a cumprimentá-lo com euforia. Camisa de manga curta com gravata, no melhor estilo jovem-americano-bem-sucedido-coca-com-fritas. Assim: futuro sub-gerente de hamburgueria famosa. Exagero de sabedoria, ao dizer ao seu público atento:
- Cada um diga agora, bem alto, que se ama e que hoje é o dia mais feliz de sua vida!
E a galera:
- EU SE AMO!!!! EU SE AMO!!! HOJE É O DIA MAIS FELIZ DA MINHA VIDA!!!!!!!
Repita, desta vez, mirando a si mesmo bem no meio do alvo e em bom português, brothers:
- Eu me amo e hoje é o dia mais feliz da minha vida!!!!!!!!!
- EU ME AMOOOO!!!!! EU ME AMOOOOOOOOOOO!!!!!!!!! HOJE É O DIA MAIS FELIZ DA MINHA VIDA!!!!!!!!!!! EBAAAAAAAAAAAAAAAAAAAA!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!!
Ele de novo:
- Repitam, trepitam, polipitam sempre estas palavras. De novo, moçada... (Agora foi exagero meu. Mas, que ele pensou nos verbos desse jeitinho, lá isso pensou).

PARTE I

Vendo a euforia da platéia, parei para refletir sobre essa história do “EU me amo”. Esse é um modismo que vem aumentando dia a dia e, creio, surgiu na mídia - com algum psicólogo, psiquiatra ou alguém especialista em baixo-estima querendo levantar o ego de pessoas numa situação difícil ou de depressão.
Não é difícil imaginar, talvez, um publicitário convencendo as pessoas que não irão comprar um espelho qualquer e sim, raro quadro em cristal com a imagem viva da pessoa mais importante desse mundo. Uma obra-prima entitulada “Sipóprio®”.
O problema é a idéia, que acredito, até bem intencionada na forma original, foi potencializada e, tal qual um remédio tarja preta tomado com caninha, acabou tendo conseqüências desastrosas. Uma pinga chamada competição; o querer se convencer do eu sou melhor, ou melhor, sou melhor que o melhor – o mais melhor ainda.
Passamos a viver o tempo do culto a si mesmo. A era do Eumesmismo.


PARTE II


Parece que as pessoas esqueceram-se que o amar a si mesmo é uma coisa inerente ao ser humano. O senso de auto-preservação vem do instinto, do mero fato de estar e permanecer vivo. É original de fábrica. Somente em casos extremos, ocasionados por doenças da mente e do espírito, torna-se necessário “acordar” isso. Ocorre que as populações modernas, cada vez mais sentem a necessidade de estereótipos para tornarem-se parte fundamental de suas vidas. Celular virou necessidade básica e computadores, semi-deuses. Tem gente esquecendo que tudo o que existe é em função do ser humano, para seu melhor bem-estar, para seu conforto e progresso, mas que não passam de instrumentos, objetos, COISAS.
Não é possível que nos tornemos o centro do universo e que aqueles que nos cercam sejam apenas COISAS. Não é possível conviver com gente que só pensa na beleza, na riqueza, no progresso e na evolução de si próprio, apenas e tão somente. Isso é involuir e, fico me perguntando quantos estão se dando conta disso.
É bem simples fechar-se em casa e esconder-se atrás de um teclado, falando das “grandes virtudes” que possui, via net. Computador não tem cheiro, não tem sabor de saliva de alguém mágico; por mais rápido que processe informações, não tem a beleza da fração de segundo com que olhares descobrem a beleza de outro ser humano, posto que “alma” não se envia por uma CAM.

A regra é não perguntar numa palestra ou sala de aula uma dúvida, correndo o risco de pagar o mico de ser o burro da turma. Silêncios com aparências de grandeza que escondem, na verdade, uma ausência imensa do que dizer, por mais simples que seja. O orgulho de admitir que necessitam aprender, faz essas pessoas tentarem transmitir a imagem de que tudo sabem, pois os seres superiores não precisam aprender.
Sabedorias de quem precisa, corre e recorre ao Google para saber o que significa simplesmente – amar. E, quando lê na Wikipédia, infere que amar, enquanto verbo, é uma coisa de junção de letras, eventualmente de órgãos sexuais utilizados para fabricação de novas Coisas, a seu pretexto. Que forma frases e diz do inexistente em seu próprio mundo. No entanto, convenientemente, vale a pena repetir seus conceitos - é politicamente correto e uma excelente chave social. Enquanto substantivo, usa-se o amor com moderação e parece remédio homeopático: ninguém acredita que uma química tão simples, não permita a doença chegar. Adota-se a alopatia para loucos de todo gênero e, de preferência, com genéricos.
Moderno mesmo é clonar. Seres, sentimentos, vidas. Quem clona não se envolve. Moderno também, é tantas pessoas sofrerem de solidão. Sabe por que? Porque quem compõe um mundo que se alimenta apenas de si mesmo, compõe uma música triste e solitária. Sinfonia para um surdo só. É muito pouco. Nossa natureza não é assim.

EPÍLOGO

Cobramos amor de mãe, amor de filhos, amor de amigos, amor de paixão, amor de todo tipo e reclamamos da ingratidão de quem estamos perto. Mas, será que damos o que estamos cobrando dos outros? Compreensão, justiça, bom senso. Será que negociamos na mesma moeda? Ou estamos enviando nosso amor pelo e-mail, somente?
Nesse passo, acredito que vale lembrar que uma doce Criatura disse:
- Amar ao próximo como a si mesmo.
Estamos distorcendo-Lhe o sentido e intenção; interpretando que o mais próximo de nós somos nós mesmos e, assim sendo, danem-se os outros.
Precisamos perceber as coisas com clareza e – ao olhar a foto do umbigo – não ter a sensação que se viu outro órgão. Ou de que daria na mesma, caso fosse. Um compositor dizia, numa música que concluia sobre esses novos tempos:
- ...haverá um Homem no céu e Deuses na Terra...
Tenho esperança que não, mas às vezes, temo que tenha razão.
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texto:paulo moreira

imagem: blog tri de 3

domingo, 27 de março de 2011

errata (burrata) - bee gees e o camuflado do cat stevens


PHOTO DO CAT STEVENS HOJE


Passei o maior vexame com o porraloka do Cat Stevens. Peço desculpas a todos e agradeço à amiga Vera Lúcia - amiga na net e correspondente de São Tomé na Terra - por ter puxado minha longa orelha.

Por preguiça e inguinorança crônica, extraí os dados da lokipédia própria e não consultei o google antes de enviar o lazarentinho do e-mail. Falei que o cara era amiguinho de Deus e todo o congresso celestial. Juraria até a morte que não seria capaz de acertar um passarinho com uma pistola 765. Por bondade, não por mira.

Moral: o cara não foi ser monge no Tibet e, se fosse, os monges locais teriam mandado o pé na bunda dele. Tremenda zen-vergonhice.

Justifico meu erro, dizendo que no meu tempo de infância, utilizaram-se da minha inocência e doce visão da vida, inventando essa estória/novela das seis sobre o Benedito Cujo. Fui iludido e ele tem mais 3 nomes, além de Dito e Cujo: Stephen Demetre Georgiou, alcunhado de “Cat Stevens” e que depois converteu-se ao Islamismo, não com o codinome Beija-Flor, mas sim como Yusuf Islam – nominho bem sem graça, diga-se de passagem.

Não dá pra confiar num cara que tem tanto nome e um deles, ainda por cima, é “Gato”. Filho de pai, que num lembro direito se é greco-cipriota ou agiota (presente de grego é foda) e mãe sueca, consequentemente,loira.

Foi proibido de entrar nos EUA por ser suspeito de terrorismo, o pioiento! Casou-se com uma dona coelha que lhe deu cinco rebentos. Não tem lance nenhum de clausura e, sinceramente eu peço a Alá que faça com que o prendam num aeroporto americano; que o façam engolir, 500 gramas de cocaína pura e depois o acusem de tráfico e pilotagem perigosa de aviões de caça e pesca - proibida pelo IBAMA e pelo OBAMA também.

Aí, sim! Clausura nele! Um processinho por falsidade ideológica, também cairia bem para o desinfeliz.

Só um detalhe: - Vai fazer música boa assim, lá no deserto! E ele sabe disso - tanto é, que foi tocar sua violinha nos Emirados Árabes.

Desculpe o vexame. Juro que não faço mais essas bobagi, viu Vera? Isso apenas aconteceu porque tenho mania de falar bem de todo mundo, vício que adquiri numa seita nova.

BEE GEES

Sobre os Bee Gees, mais esperto agora, digo que nasceram na Ilha de Man (tradução livre: Ilha do Homi, algo do tipo Nordeste do Sarney, numa menor escala). Ninguém diz se a tal ilha é país, sede religiosa, complexo penitenciário, colônia de férias do SESI ou dependência de avicultura.

Viveram na Austrália; venderam e vendem discos pra cacete. Tem o carequinha sem barba que parece humorista do SBT, com voz de pato; tem o barbudo que é um misto de viking-ternurinha e marreco solitário, e um outro barbudo com cara de agente secreto, que faz segunda voz de verdade - melhor que o Luciano (aquele da duplinha, que nem dublar consegue). Parecem saídos do coral de um pateiro. Recomendo ouvirem suas músicas, com laranja, abacaxi, pêssego e figo em calda – tipo “abandonado à Califórnia”.

Em tempo: não possuem antecedentes criminais divulgados e nada consta em nossos arquivos que os desabonem. Muito pelo contrário, suas músicas são lindas.

A Ilha de Man é hoje conhecida pela qualidade do trinado de seus patos ilustres. Os que ficaram; um deles foi conhecer o congresso celestial que o Cat não quis saber. Bom ter asas.

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Vejam abaixo, caso reste alguma paciência, cópia do curriculum do enviado de Alá, junto com o dos Bee Gees – publicados no google/wikipédia.

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Anteriormente conhecido pelo nome artístico de Cat Stevens (Londres, 21 de Julho de 1948) é um cantor e compositor britânico. Seu nome de nascimento é Stephen Demetre Georgiou. Seu pai é de origem greco-cipriota e sua mãe de origem sueca. Vendeu 40 milhões de álbuns, principalmente entre as décadas de 1960 e 1970. Em 1971, escreveu uma música para o filme Harold and Maude (no Brasil: "Ensina-me a Viver"). Entre suas canções mais populares estão "Morning Has Broken", "Peace Train", "Moonshadow", "Wild World", "Father and Son" e "Oh Very Young". Stevens se converteu ao Islão e abandonou a música em 1978. Desde então passou a se dedicar a atividades beneficentes e educacionais em prol da religião. Toma muito cuidado quanto ao uso de suas músicas. Muitas delas dissertam a respeito de temas de sua vida anterior à conversão, e Stevens não quer mais ser associado a eles. Não surpreende que nunca tenha permitido que qualquer de suas canções fosse usada em comerciais de televisão. Apesar de estar há quase 30 anos afastado da indústria musical, os trabalhos anteriores como Cat Stevens continuam vendendo uma média de 1,5 milhão de discos por ano. Criou seu próprio selo fonográfico, a Ya Records, pelo qual já produziu dez discos de música religiosa e espiritual. Fundou três escolas muçulmanas em Londres e uma organização sem fins lucrativos, Small Kindness, reconhecida pela ONU e através da qual presta ajuda aos órfãos de conflitos como Bósnia, Kosovo e Iraque. Em 2004, o Departamento de Segurança Interna dos Estados Unidos impediu a entrada dele no país, após incluí-lo na lista de vigilância por atividades provavelmente relacionadas ao terrorismo. Em Março de 2005 ele lançou "Indian Ocean", sobre o tsunami de 2004 no Oceano Índico, que em 26 de Dezembro de 2004 atingiu vários países, com o objetivo de ajudar os órfãos de Banda Aceh, na Indonésia, uma das áreas mais afetadas pelo tsunami. Em 2006, anunciou a sua volta à música pop, com o disco An Other Cup, lançado em 28 de novembro, coincindindo com o 40º aniversário de lançamento do seu primeiro álbum.[1] Em janeiro de 2009, Yusuf gravou uma música de George Harrison chamada The Day the World Gets Round, em colaboração a Klaus Voormann. O dinheiro arrecadado com a música foi doado às pessoas vítimas da guerra na Faixa de Gaza. Para promover o novo single Voormann redesenhou um famoso álbum dos Beatles, o Revolver, sendo que a nova edição veio com o desenho de Yusuf mais novo, o próprio Voorman e George Harrison. Em maio de 2009, foi lançado o novo álbum de Yusuf, Roadsinger. A principal música, Thinking 'Bout You, saiu na rádio BBC em março. Em abril, ele apareceu no primeiro programa de Chris Isaak da A&E com versões ao vivo das novas músicas, Shamsia, Boots and Sand e Roadsinger. Em junho de 2010, ele pretendia fazer uma turnê pela Austrália pela primeira vez, em 36 anos. A turne não aconteceu, mas seus fans esperão que ela venha aconhecer a qualquer momento do ano de 2011. Yusuf casou-se com Fauzia Mubarak Ali em 7 de setembro de 1979, com quem teve cinco filhos. Atualmente mora em Londres, mas periodicamente passa temporadas em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos.

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Os Bee Gees são uma banda formada por três irmãos: o mais velho Barry Gibb e os gêmeos Robin e Maurice Gibb. Nascidos na Ilha de Man e tendo pais ingleses, moraram apenas alguns anos em Chorlton, Manchester, Inglaterra. Os irmãos mudaram-se ainda crianças para Brisbane, em Queensland, na Austrália. Fazem sucesso desde 1966, sendo um dos artistas que mais venderam discos no mundo em todos os tempos. Passaram por diversos ritmos musicais, do rock psicodélico às baladas, passando pelo country e country rock, pelo rock, pela música disco, pelo R&B, pela música Romântica, terminando no pop rock moderno.Venderam mais de 250 milhões de discos em todo mundo. Foram incluídos no Hall da fama de grupos vocais, no Hall da Fama do Rock and Roll, no Hall da fama dos Compositores e ganharam nove prêmios Grammy.O álbum Saturday Night Fever é a trilha sonora mais vendida de todos os tempos e o nono álbum mais vendido da história com mais de 37 milhões de cópias,de acordo com a revista Billboard: 300 Best-selling Albums of All-Time,onde são revelados os 300 álbuns mais vendidos no mundo em todos os tempos. Possuem muitos recordes pela Billboard Hot 100 entre esses,estão em oitavo lugar entre os artistas com mais canções que ficaram em primeiro lugar,o seu álbum "Saturday Night Fever" ficou em segundo lugar,entre os álbuns com mais canções que ficaram em primeiro lugar,perdendo apenas para o álbum "Bad" de Michael Jackson,São os artistas que tiveram mais músicas em primeiro lugar nos anos 70 com nove canções no total,estão em segundo lugar entre os artistas com mais canções consecutivas em primeiro lugar com seis músicas, entre (1975-1979),Terceiro lugar entre os Artistas que ocuparam simultaneamente o primeiro e segundo lugares com as músicas "Night Fever" e "Stayin' Alive",e ainda Barry Gibb está em quarto lugar entre os Produtores com mais canções que ficaram em primeiro lugar com 14 músicas e também aparece na quarta colocação entre os Compositores com mais canções que ficaram em primeiro lugar,com 16 músicas ao todo,perdendo apenas para Paul McCartney (32), John Lennon (26) e Mariah Carey (17).O Hall da Fama do Rock and Roll diz em uma citação: "Somente Elvis Presley,The Beatles,Michael Jackson,Garth Brooks e Paul McCartney superam os Bee Gees". Os Bee Gees, foram uma das bandas que mais arrecadaram,e são considerados pela maioria da crítica musical, a segunda maior banda da história da música em todos os tempos,pelo conjunto da obra, atrás apenas dos Beatles.

texto: paulo moreira

imagem: telegraph.co.uk

quinta-feira, 24 de março de 2011

amor criança (pensando em Sarinha)

Dê-me suas mãos, vem! Brinca comigo nesse caminho maravilhoso das estrelas. Veja a estrada de terra à nossa frente levando até não sei onde. Calce o sapatinho para que nenhuma pedra possa ferir seus pés.
Agora solte esses cabelos e os deixe ao vento. Quero ver seus dentes num sorriso marfim de quem só tem que chegar ao castelo. Enquanto giramos e pulamos numa dança do nosso ritual, a lua mostra teu corpo translúcido dentro do vestido branco - em sua prata luz - e eu admiro a cena como quem vê uma obra de arte em mármore protegida por véus. Veja... somos estátuas que dançam; criaturas de pedra mágica, com coração e pulsar.
A lua ilumina também as flores do campo e reflete no lago - enquanto os dois, meio a tudo, percorremos essa planície feito vagalumes. Flor por flor. Linda uma por uma. Os pássaros da noite piam, enquanto os outros dormem tranqüilos. Vejo olhinhos xeretas nos acompanhando o tempo todo.
Fico pensando nos bichinhos que já foram dormir. Preás abraçados meio a moita devem ser muito engraçadinhos. Uma preá de camisolinha deve ser o máximo.
A lua está em seus olhos e só sei sorrir. Senta um pouco aqui na beira do lago, ao meu lado. Na beira oposta, jacarés e suas namoradas – pelo brilho dos zóiões - devem estar fazendo planos de uma vida inteira. O lago parece um espelho que pisca, não é? Não está chovendo: são os peixinhos tomando fôlego. Veja o salto daquele. Uiaaaaaaaaaa. Só pra se mostrar!
Levante, vamos para a cachoeira. Beije meu rosto, pirilampa princesa!
Gosto de andar com as mãos dadas, pois é como se fôssemos caminhar juntos por mil anos e, essa sensação tão doce, gostaria de conservar pela eternidade. Caminhar de almas dadas é ir de encontro à mais pura luz do universo.
Sinto segurança ao seu lado. Com essa vara-espada encontrada no chão, lutarei feroz contra os todos os bichos da escuridão humana. Qualquer dragão - duvida? Adoro quando você bate palmas festejando minha vitória na mais terrível batalha já vista por um ser vivente. Só você presenciou, mas isto me basta. Nós sabemos o significado das nossas vitórias. Puxa, suei; me enxuga a testa.
Precisamos ir urgente para a cachoeira, pois marcamos uma visita àquelas águas que vivem em festa.
Acho que nos amamos, e você? Não responda, só balançe a cabeça se for verdade. Ahn, eu sabia!
Viu como é pertinho? A cachoeira lança faíscas de platina na queda e essa água aqui embaixo represada parece estar muito boa. Faça como eu, deixe as roupas na pedra e pule comigo. Assim.
A noite está quente e a água gelada. Abrace-me e fique comigo juntinho de mim, porque seu menino agora está com frio. Quando a gente gosta, um abraço desse vale a vida. Você fica muito engraçada, toda arrepiada. Já já, passa. Estava com sede e esta água misturada com sua saliva no beijo parece um elixir de felicidade.
Quando puder, vou construir uma casa bem debaixo da clareira. Nossa casinha terá uma lareira para quando o frio chegar. Será que a casa de madeira não tem perigo de pegar fogo também? Vou deixar bem isolada com barro, pois acho que barro não pega fogo.
Até te enxergo cuidando dos nossos dois filhos. Disse-me querer dois, um menino e uma menina. Já pensou se forem gêmeos? Acho que quando a gente pede as crianças, Deus manda. Mas só aqueles que pedem acreditando muito e bastantão, Ele envia do jeito certinho que encomendamos.
Se ficarmos deitados na pedra, daqui a pouquinho estaremos secos e podemos vestir as roupas para continuar. Embora, talvez agora, seja bom uma pausa.
Estou com soninho e acho melhor dormirmos aqui mesmo. Veja as estrelas lá em cima, formando figuras de não sei o quê. Um não sei o quê mais lindo que o outro. Não precisa rir de mim. Não sei o quê é uma coisa que não sei explicar, oras...
Adormece, princesinha, porque o caminho das estrelas só é possível percorrer seguindo os olhos do espírito. Entrelaça o seu coração comigo e não tenha medo. A viagem pelo céu é a viagem mais emocionante que duas crianças podem fazer. Temos mais de mil estrelas por visitar.
Dorme em paz, anjo de luz, para podermos partir agora. Estrelas não podem esperar.
Você dormiu. Mas se, de alguma forma puder me entender, quero que saiba o quanto me faz feliz. Obrigado por mais uma noite inesquecível de amor, que só junto de ti posso ter. Obrigado, mulher que se faz fada e menina - encanto mágico que cria o mundo de nossas fábulas, nosso reino e o melhor território que vivemos na Terra.
Por tentar ensinar-me a ser um sempre-príncipe. Por fazer de mim, uma criança feliz.
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texto: paulo moreira - remake - a mensagem que passou sem ter sido percebida
imagem: olhares.com - portugal

domingo, 13 de março de 2011

supremacia

O amor não comporta tanta mágoa, que leve ao capricho tolo. Nele, ninguém jamais terá tanta razão, que possa ter direito a prepotência. À tanto, há que se preferir a solidão, pois seus caminhos deixam de existir. Ou optar pelo entendimento que sua grandeza permite.
O amor não morre nunca, mas pode partir sim, com a mesma ausência de motivos porque chegou.

texto: paulo moreira
imagem: olhares.com - portugal

terça-feira, 8 de março de 2011

estranho ofício

Estranho ofício esse. Às vezes, acordando em sobressalto no meio da noite, para atender a urgência de uma idéia, feito um policial percorrendo as ruas do labirinto de nós mesmos. Personagens que surgem e dos quais temos a obrigação de lhes contar as dores, os sofrimentos, o amar, o tudo sentir. Escrivão do tribunal da própria consciência, relatando acontecimentos que marcam o espírito. É assim.
Como uma criança que vive seus sonhos, sou pintor. E meus pincéis são palavras, capazes de colorir sonhos, de produzir telas de natureza viva ou morta. Pintor de casas de toda cor, inclusive das que já a perderam. De árvores secas ou floridas, depende. Um pedreiro que assenta as palavras dos muros de arrimo da esperança. Açougueiro que apunhala o coração sem piedade. Soldado sem quartel.
É esse o ofício. E mais.
Médico amigo que socorre corações e lhes cura as feridas. Cirurgião plástico que modela a amada à feição de fada ou, talvez, um psicólogo navegador que - paciente - ouve, propõe buscas, orienta rumos e viaja Brasis e outros mundos. É o curador ou charlatão de almas tantas, mesmo a sua. Um professor que presume tudo poder ensinar.
Escrever é assim.
Sou engenheiro de palavras, viabilizando o impossível num tear de tramas do fundo de alguém. O iluminador de caminhos, talvez. O palhaço arrancando sorrisos e ternura de uma criança de qualquer idade. Anjo veterinário dos animaizinhos - enxerga cada um como um filho.
Minha profissão são todas e, em cada uma, tento ser o melhor possível. Alimento-me de emoções e as dos outros, pretensiosamente, quero alimentar também.
Sou o músico da poesia ritmada ou sem rima ou rumo. Cineasta e diretor do filme que escolhe o final feliz ou não, conforme meu estado. Filmo cenas de amor, de aventura, dos horrores do mundo. Tudo num papel. Walt Disney de algum desenho animadíssimo. Kubrick de coisas ininteligíveis, mas instigantes.
Emociono-me igualmente com sorrisos ou lamentos. Ambos mexem comigo de uma maneira fortíssima. Despertar a emoção das pessoas é a realização do meu trabalho. A minha maior paga.
Escrevo e faço do meu escrever um testemunho do mundo, de defesa do que me parece justo. Advogado dativo, preposto da natureza, dos amantes, dos sonhos, do Céu e da Terra. Se alguém os agride - enquanto juiz - condeno ao exílio ou à morte perpétua. Passo o concreto e o virtual para um único plano; o dos sentimentos traduzidos em palavras. Arrancar lágrimas, leva-me a um estranho tipo de êxtase.
Ao menos, tento.
Sou nada real. Mas, ainda que absurdo, faço as pessoas pensarem. Um chanceler de todas as profissões e afazeres do mundo. Do amor também.
Na verdade, sou apenas um escritor.
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texto: paulo moreira
imagem: google

quarta-feira, 2 de março de 2011

coração que sabe o destino - 2

Coração que ama, compreende um único tom diferente de voz. Basta a fração de segundo de um desvio do olhar, para saber que as carícias de quem ama, não mais lhe pertencem – já estão em outro lugar.
Conhece a estrada que o espera, como sempre. E assim prossegue seu caminho.
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texto: paulo moreira
imagem: olhares.com - portugal

domingo, 20 de fevereiro de 2011

encontro

Ele chegou de cabeça baixa, olhos no nada. Hora de partir. Levaria a roupa do corpo, os documentos, um cartão de débito, tantas tristezas, decepções, esperas sem fim, indiferenças.
Ela procurou seu olhar e, quando o encontrou, não precisou nada perguntar. Sabia por demais cada sentimento que aquele, um dia seu cúmplice e razão de ser, levava na bagagem.
Por sua vez, naquele segundo em que seus olhares se cruzaram, ele também lia naqueles olhos de água marinha, todas as marcas que a parceira trazia agora em si. Carências, desenganos, cicatrizes.
Naquele momento, os dois estavam como que vendo um lindo filme antigo gravado na memória e que, a cada dia, os torturava em suas sessões intermináveis. As esperanças, os planos, a fusão de dois seres num único. Tudo num tom de marrom guardado. A ventania do tempo lhes havia tirado as folhas. Fizeram-se árvores secas, de galhos nus, geladas pelo mesmo inverno. Não precisavam mais de palavra alguma; apenas sabiam tudo em silêncio. Perguntas ou desabafos, seriam desnecessários.
Momentos únicos não dão a possibilidade de passar um estilete e deixar pedaços para um ou para outro. Segredos, entregas e momentos não são divisíveis, de modo que cada um leve sua parte. Ao contrário, cada parte é o todo. Dois corpos não são dois corpos – são magia.
Um débil aceno com a mão baixa e dirigiu-se com passos leves ao portão - sem olhar para trás.
Lentamente, ela também o acompanhou até a saída e agarrou-se às grades com as lágrimas do desfeito. Vendo-o seguir adiante, puxou levemente o portão atrás de si e também saiu pela rua - sem olhar para trás.
Dias depois alguém os viu, madrugada de lua cheia, numa velha estrada de chão à beira de um lago. Cabelos desgrenhados e roupas úmidas de sereno. Lindos como pura inocência, de mãos dadas; ora cantarolando, ora falando coisas sem nexo. Felizes como nunca se viram algum dia.
Perguntados sobre quem eram e o que faziam, ela olhou para uma inédita verruga no braço e sentiu-a como um broto de nova folha no início da primavera. Com uma aura de luz, falou serena:
- Encontro de desencontros. Plantamos estrelas, sonhos e eternidades.
E seguiram sorridentes e brilhantes - sem olhar para trás.
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texto: paulo moreira
imagem: internet

sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

um silêncio recebido por e-mail

No primeiro e-mail, escreveu tudo o que queria dizer no espaço para “assunto”. Mensagem completa:
- Adorei, envie mais
Sorriso feliz; sensação de ter tocado alguém. Faço montagens e formatações de PPS, com alguns textos que escrevo e, uma das coisas mais gostosas, é receber algum e-mail pedindo mais.
Adicionei aos contatos e comecei a enviar novas mensagens. Novas respostas monossilábicas, sempre uma ou duas palavras no “assunto”. Ali, ela já definia tudo: a mensagem, o gostar, os votos de continue assim, os parabéns, etc. Me acostumei com o pouco que muito dizia.
Até que um dia, as palavras minguaram tanto que o e-mail veio sem uma única palavra no assunto, ou melhor, veio: "sem assunto" . Procurei no corpo do e-mail – neca, nadica, coisninhuma.
- Puxa, ela enviou um silêncio dessa vez!
Ri muito da idéia. Detalhe que se esquece fácil, mas o pensamento começou a pipocar sem parar.
Teria sido alguma história que escrevi e que a deixou sem palavras? Mulher abstrata. Será que morri e, distraído como sempre, nem notei? Dizem que a gente morre e fica um tempão de cérebro anestesiado, achando que os que estão em volta estão meio doidinhos. Como quem tivesse cheirado uma carreirinha de pó de crematório. Deus me livre – idéia tonta.
Divertido com a brincadeira, continuei navegando e pensando cada possibilidade com a seriedade de um menino construindo uma pipa.
- Lógico! Quis dizer que a vida dela é uma coisa branca e sem graça. Meus PPS são os lápis de cor de sua existência. A tinta que pinta lindas paisagens e dá vida aos seus sonhos.
Muita pretensão. A chave, certamente está no branco. Branco transmite uma porção de coisas: Paz, esquecimento, pureza de noiva, susto, fígado e estômago ruim. Fígado não – amarelo é que lembra. Devo transmitir-lhe paz, é isso! Casar, acho que não. Quem está assustado não manda e-mail – disca 190. Fígado ruim, além da cor inadequada, só faria alguém enviar e-mail para o SUS. Já sei: amor. O amor é fisicamente branco. Isso porque, em Física, branco são todas as cores juntas. Ninguém discorda que o amor é policolorido. Particularmente, acho que deveria ser vermelho. Leiloca misteriosa!
Descobri pela remetência que o nome dela é Leiloca. Quem seria Leiloca?
Seria Leila, homem burro! Ninguém registra uma criança no cartório com nome de Leiloca. No ginásio fui apaixonado por uma Leila. Parecia uma princesa. Pele muito clara, branquinha... Longos cabelos negros, linda feito a lua e... era um pouquinho gaga. Quantas noites sonhei com seus beijos. Melhor que isso, sonhava que ela me desse um beijo gago – daqueles que não conseguisse terminar nunca. Não ganhei o beijo gago, mas meu coração não sabia se batia ou não quando a via. Meu coração gaguejava por ela. Mas, estava falando da Leiloca de hoje. Real e palpável. Palpável sim, ela existe em algum lugar, de onde envia silêncios.
Uma garota adolescente encantada com minhas crônicas de amor? Fico imaginando um homem maduro como eu, acompanhando o evoluir de uma adolescente, sua vida, seus estudos. Estudante de odontologia tem orgulho e até dorme de branco. Pijama, calça, blusa, jalequinho, calcinha, sutiã. Um teclado de piano na boca, sem os bemóis, claro! (Bemol é a cárie do piano). Ou teria feito curso de auxiliar de enfermagem? Uma médica? E, se for uma professora de medicina aposentada, charmosíssima e delicada senhora no ápice de suas 80 juventudes?
Imagino ser uma linda mulher madura. Inteligente é. Linda também. Esperta. Cheia de curvas e pernas roliças. O pensamento avança:
- Rolando abraçados, numa cama com lençóis e fronhas de cetim branco. Olhares no fundo da alma de cada um. Oceano de paixão, carinho, ternura. Longos orgasmos implosivos e silenciosos. Daqueles que beira a morte ter que calar. O teto branco, girando, girando. Promessas de amor infinito.
De repente, um aperto no coração. Um medo enorme de molhar os lençóis de cetim desarrumados, em razão de um pensamento impossível. Em nossa vida, acontecem as coisas mais absurdas. Mas, por mais cruel ou absurda que seja uma idéia, deve ser considerada:
Ia enviar um e-mail para Patrício Carlos – seu atual namorado - terminando tudo. Começou pelo destinatário; sem querer clicou no Paulo que, por uma dessas ironias do alfabeto, vinha logo abaixo.
Na pressa - ao invés de deletar – clicou em enviar.
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texto: paulo moreira
imagem: photoforum.com

domingo, 6 de fevereiro de 2011

mãos sem perdão

Perdoe minhas mãos.

Certas mãos não sabem o que fazem. Deveriam ser de carinho, mas foram apenas aquelas que deixaram marcas e que sufocaram; que asfixiaram almas. Deveriam amparar e serem guias; no entanto, abandonaram num labirinto.
Perdoe minhas mãos por serem assim.
Apontam e atacam, quando deveriam guardar e ser mãos que trabalham. Antes que alívio, trazem a dor, fazendo de seus afagos, as feridas. Antes que aconchego, fomentam o desespero. Que, ao invés de carregarem um coração, impõem-lhe a mágoa.
Perdoe essas minhas mãos.
Criadas para serem mãos de cura, causam doenças, contaminadas por vírus de desatinos. Mãos descuidadas que não mais recebem – apenas jogam fora. Que preferem um aceno de adeus à alegria de receber na chegada. Mãos de partida. De desengano.
Perdoe a frieza de minhas mãos.
Por saberem que foram feitas para intervir nas discórdias, mas escolhem bater. Por só levarem o alimento à boca que lhes pertence e a ninguém mais. Mãos feitas para plantar, porém, descuidadas, perdem sementes pelo caminho. Que transformam as terras que lhes são dadas ao plantio do amor, em vastos desertos estéreis e de decepção, dos quais subverte as areias, regando-as com lágrimas.
Perdoe-me.
Por não saber usar ou conter as mãos insanas. Por não unir as mãos para uma prece sequer. Por, ao invés de oferecer o anel da aliança, ter amputado a delicadeza dos dedos de sua alma e lhes infligir a paralisia dos gestos.
Perdoe essas mãos setenta vezes.
Por não saberem construir o que puseram abaixo. Pela covardia de não conseguirem por fim em seu próprio desvario e repousarem no peito.

Perdoe essas mãos que não sabem sequer rogar perdão.
texto: paulo moreira
imagem: google
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